sábado, junho 24, 2006

Eu, o Mundo, a Pluraridade das Aparências, a Realidade


" Suponha que está sentado num banco à beira de um caminho, numa paisagem de alta motanha. Tudo o que os seus olhos veêm já lá estava milénios antes de si, segundo a nossa concepção habitual. Mais um breve momento e, por certo, você deixará de la estar: a floresta, as rochas, o céu, esses ainda existirão vários milénios, imutáveis.
Que fez sair tão drasticamente do nada para florir, durante um efémero instante, este espéctaculo que o ignora?
Todas as condições para que nós existamos são quase tão antigas como aquele rochedo. Os homens lutaram, sofreram, procriaram durante milhares de anos, as mulheres pariram na dor durante milénios. Talvez um outro estivesse aí sentado, nesse mesmo lugar, há cem anos. Também ele foi engendrado por um homem e dado há luz por uma mulher. Tal como você também ele sentiu a dor e um breve alegria.
ERA DE FACTO OUTRO? Não seria você mesmo? O que é o seu EU? Que condição foi precisa para que o ser engendrado desta vez se tornasse você, justamente você e não outra pessoa? Que sentido claramente compreensível, compatível com as ciências da natureza se deve dar a essa "outra pessoa"? Se aquela que é agora a sua mãe tivesse vivido com outro e gerado um filho dele, e se o seu pai tivesse feito o mesmo, será que você se teria tornado você? Ou viveria porventura neles, no pai de do seu pai, desde há milénios? E ainda que assim fosse, porque não é você o seu irmão, porque motivo não é ele você? Ou então um dos seus primos afastados. Afinal o que o faz descobrir diferenças- a diferença tão obstinada entre você e outra pessoa- quando objectivamente o que está aqui é a mesma coisa?"
ERWIN SCHRÖDINGER, Prémio nobel da Física 1933, "Ma conception du monde"

1 comentário:

nOgS disse...

Absolutamente fantástico.