quinta-feira, dezembro 28, 2006

Não faz sol na Dinamarca


Eu estava na mesa do Bar no meio de amigos comuns. Já várias vezes tinha trocado monosílabos com ela. Já por vezes tinha reparado nos olhos amendoados e expressivos, já a adivinhar que dentro de poucos segundos os seus lábios esboçariam um sorriso. Mas não conseguia sair deste ponto. Adorava observar. Limitar-me a imaginar.

Poucas trocas e muitos sonhos depois, no mesmo bar de sempre, ela levanta-se para ir embora, passa por mim, e na altura exacta em que eu cobardemente desvio o ollhar, toca-me e passa-me um guardanapo. Lembro-me da minha ansiedade, da minha falta de coragem para o que aí vinha. E da surpresa quando vi. Não! ela não se limitaria a deixar um número de telefone, não se limitaria a dizer que me queria conhecer melhor, ou que me achou interessante.

No guardapo esta uma citação de Anne Rice... "The awaikening of a need so terrible, that the very promise of its fulfilment contains the unberable possibility of disapoitment".

Passaram uns dias e ela não voltou a aparecer no bar. E depois passaram umas semanas... e nada.

Certo dia, estava eu presente e ausente no mesmo sítio do costume, quando um amigo afastado do meu lado, amigo direito do lado dela veio ter comigo e entregou-me um par de óculos escuros, género "John Lennon" que eu invejava secretamente por fazerem parte do dia-a-dia dela. Junto aos óculos vinha um bilhete que dizia: "Não faz sol na Dinamarca".

E ela foi, e eu fiquei...

pic by frigobox

terça-feira, dezembro 26, 2006

O seu céu

De macro para micro. De essência e energia fluída numa carcaça de vitalidade que enquadra tudo o que é etéreo e que orgulhosamente chamamos vida.
E as paredes vão-se formando, limitando-nos e obrigando-nos a focar.
E sentimo-nos bem, mais cheios, mais presentes, mais significantes.
A isso chama-mos ego.
Algo que nos eleva e nos torna capazes de amar de dignificar.
Mas ele quebra-se, quebra-se quando díminuimos ao ponto de cabermos unicamente dentro de alguém.
E lá vai a confiança.
E volta a incerteza.


Distraído (azeret)


Estava eu como uma rocha. Sólido.Inerte.Inamovível. E as tuas palavras doces fluiam como um rio à minha volta, sem parar, contornando-me, banhando-me, acariciando-me violentamente.
E ao mesmo tempo macias. Da tua boca saiam setas de seda, que procavam arrepios, mas que não me faziam mexer.
E um dia desististe. Era previsível. Era necessário.

Queria dizer-te que devias ter ficado. Que não assististe ao resultado do teu esforço.
Pouco tempo depois de ires, a rocha começou a ceder, e invitavelmente partiu-se.
E fluiu à tua procura.

pic lidarman

segunda-feira, dezembro 25, 2006

sem medos


Raul e Rui Sérgio passeavam descontraídos. Eram amigos há dois minutos, desde que um deles chegou pela primeira vez à escola com os olhos vermelhos, com todos os medos do mundo. O outro veio ter com ele, estendeu a mão, e disse "olá sou o teu novo melhor amigo, diz-me como te chamas".

Pouco depois cruzaram-se comigo, igualmente caloiro, sentaram-se ao meu lado, perguntaram-me o nome. Perceberam que tínhamos todos a primeira letra em comum. Convidaram-me para ser um deles e decidimos ir à procura de outro igual.

Fomos todos um só durante 4 anos, até eu sair, obrigado, para uma escola diferente, numa rotina que se tinha perdido durante esses anos.

Passaram-se vinte e cinco anos. Nunca mais soube deles.

Hoje decidi procurá-los.

pic by darkkavenger

O meu nascimento


Conta-me a minha mãe que foi pacífico. Que não houve problema nenhum, que foi o feliz ocaso de um período complicado. Eu não imagino assim. Imagino um eterno perído de aproximadamente 9 meses, onde o meu mundo aconchegante e limitado era suficiente para toda a vida. Vejo-me também sem compreender "toda a vida" sem preceber o que me esperava, sem perceber que iria "nascer". E que nascer é sofrer. E renascer é morrer.

Não sei se fiz um esforço para sair ou para ficar. Devo ter chorado, o primeiro de muitos choros. Devo ter mantido ao máximo os olhos fechados, como ainda mantenho. E de certeza que sem saber me apaixonei por todas as pessoas que naquele momento vi. Todas lindas e fascinantes. Tal continua a acontecer.

E tive toda a minha família à minha volta, toda feliz, como se os problemas torturosos que não conseguimos evitar por viver, não existissem. Como se no meu nascimento a vida fosse só "a vida".

Muitos anos passaram. Muitas vezes tentei voltar as nascer. Porque muitas vezes me sinto fechado convencendo-me que estou solto. Isolado por muita gente que circula à volta da mim, mas não em mim. E espero anestiziante o momento da libertação, da explosão do meu amor, do poder de manisfestar que amo todos. Que os amo a todos. Que todos são lindos, geniais, milagres.


pic by kibritcikiz

terça-feira, dezembro 19, 2006

um dia... (por volta do ano 2000)


Eu tive uma flôr um dia...morreu de asfixia
Recebi uma prenda um dia... era tão escura que de noite não se via
Deram-me um dia uma joia... transformou-se numa jiboia e comeu-me
um dia tive um cão... estendia a pata a quem lhe desse a mão

Um dia tive-te a ti... dei-te uma flôr, uma prenda um joia e cão... mas não dei o querias... por que já me tinhas e não sabias.

e foste...

pic by blueblack

segunda-feira, dezembro 18, 2006

dificuldades em começar a segunda vida

na primeira estive incubado 9 meses,
cresci durante 20 anos,
vivi 5
e preparei-me durante 2 para a vida seguinte.
nesta estive em transe durante 6 anos,
e agora ando perdido há um ano.
tenho saudades da minha metade,
do mundo paralelo onde o tempo era variável,
lento e rápido,
onde uma espera de minutos durava horas,
e a felicidade segudos.
Nasci realmente nesse tempo, para pior, dizem uns
em direcção a mim digo eu.
Sinto muito falta dela,
dos olhos falantes, do sorriso aglutinador,
do que me fazia ser ao pé dela.
copiando um filme, ela fazia-me todos os dias querer ser melhor pessoa.

Juntámo-nos tanto, apertámo-nos tanto, bebemo-nos tanto, que so podiamos explodir..
.

domingo, dezembro 17, 2006

corrosivo, desligado e pessoal


bem espremido o meu coração deita umas gotas que se misturam com água e tornam o resultado um ácido, corrosivo que queima a minha pele, deixando marcas assustadoras, monstruosas. Assim aprendo a agir como tal.

As minhas verdades duram o tempo da minha ilusão... nessa altura estou tão certo delas que parecem demasiado celestiais. um segundo depois sinto-me rídículo, destruído e arrasado.

Depois preciso de sorri, de sorrir de mim, e decido dar tiros no pé, mergulhos no abismo, suicidios interrompidos.
Estou parvo, estou tão longe de mim... quero sair e não consigo, quer ser qualquer uma das pessoas que me rodeia mas não eu, não a pessoa monstruosa cheia de verdades efémeras e ilusões ríduculas.

voltei ao blog, sentido-me verdadeiro com a triste essência do mesmo, escondida por mais de cem posts mascarados.

pic by alex

quarta-feira, dezembro 13, 2006

“Sometimes it's the smallest decisions that can change your life forever.” O. Wilde

hoje tenho ideias soltas...

cresci mais nos últimos 6 meses do que nos ultimos 10 anos
cresci para me tornar mais jovem
para me aperceber que acima de tudo existo eu
que só conto comigo,
a única pessoa que controlo sou eu...
e que às vezes é preciso largar a cana para não ir parar ao fundo do oceano

Hoje tento matar uma parte de mim, para me poder soltar
e não ser injusto, nem cruel nem odiável...

hoje estou de luto, pois uma das melhores partes de mim morreu.

a partir de hoje não serei o mesmo

terça-feira, dezembro 12, 2006

Não estou a pensar em ti


penso em nada para não pensar em ti a não que estejas a pensar em mim


pic(not thinking of you) by boobookittyfuck

um tornado


ventos a 150
vejo uns olhos à distância
lindos, secos, atravessantes
corro e estico-me
o chão desaparece e caio outra vez

ventos a 190
vejo o teu sorriso à distância
aglutinador, desejante
acelero, rodopio
furo um pneu

ventos a 220
vejo as tuas costas à distância,
são uma autoestrada
levanto vôo, elevo-me
saio de órbita

ventos a 300
vejo-te como um ponto à distância
tão pequenina, cabes no bolso
fico quieto,
nem respiro.

Ventos a 2
não te vejo,
já foste
adormeci
vivo mais um dia.

pic boobookittyfuck

um dia


Eu durmo ao som de músicas tristes, que dizem que as estrelas tão longe no céu nunca serão minhas. Finjo acreditar e deixar-me embalar e às vezes chego a experimentar dançar.
E um dia hei-de começar a cantar suavamente a murmurar, a tentar impor um ritmo e esticar-me até ao céu. Um dia hei-de fechar os olhos para não cegar e dizer ao ouvido de uma estrela "eu vim por ti".

pic ln-dark

just me (tonight)


When I was young, younger than before
I never saw the truth hanging from the door
And now I'm older see it face to face
And now I'm older gotta get up clean the place.

And I was green, greener than a hill
Where flowers grew and the sun shone still
Now I'm darker than the deepest sea
Just hand me down, give me a place to be.

And I was strong, strong in the sun
I thought I'd see when day is done
Now I'm weaker than the palest blue
Oh, so weak in this need for you.

Place to be - Nick Drake

domingo, dezembro 10, 2006

Don't want to sleep

"Don't want to sleep
for fear I will dream of you
and wake up in tears
like I always do

I want to stay awake forever
in a room that doesn't have pictures of you
so I won't spend all of my time
staring at them and missing you

A million times a day
I pick up my phone
I think maybe if I just call you
...but I always stop myself

I know that if I call you
you won't answer
And I'll be sad
and mope around forever

I spend so much time pretending to be happy
sometimes I have to walk away
just to let myself be sad
I don't want to pretend
but I have to for my own sake

I stay up until I can't any longer
Everytime I close my eyes you're there
And I don't know what to do
I can't seem to let go
I don't want to let go either

Prom is Saturday
and if I go
I'll be stuck thinking of you
and how it's the reason you're mad right now
I just don't understand
so I will end up staying home
and crying silently to myself

I don't want to sleep
I don't want to dream of you
I just want this to dissappear
and for you to call
How much longer do I have to wait
just for you to call

I sit at work on my break
staring at my phone
those thiry minutes were always spent
talking to you
So now that I can't call you
I don't know what else to do

Some days I can pull myself through
but only by pretending
I'm so tired lately
from trying not to sleep

I wish I could just sleep
but it makes things worse
to see you in my dreams

Almost everyday
I have to drive down that street
the one where we had our first kiss
and it hurts everytime

So many memories
but now what?

Just me trying not to sleep
for the fear I will dream of you"
©2006 ~SelflessDefect

no words


by ~Wayeb

sábado, dezembro 09, 2006

it's always about a girl





As minhas lágrimas mais doces
os meus momentos mais sós
a minha dor mais pura
a minha raiva de mim,
têm sempre a mesma razão de ser.

As minhas acções mais nobres
que resultam na tristeza profunda.
A minha falta de razão
e a minha estúpida frustação
têm sempre a mesma razão de ser.

E é sempre uma rapariga
a culpada de tudo,
o objecto da minha amargura
porque não quer aceitar
todo o meu amor.

Alice by *kea-etc

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Out of my head



Sometimes I feel
Like I am drunk behind the wheel
The wheel of prosperity
However it may roll
Give it a spin
See if you can somehow factor in
You know theres always more than one way
To say exactly what you mean to say


Was I out of my head? was I out of my mind?
How could I have ever been so blind?
I was waiting for an indication
It was hard to find
Dont matter what I say only what I do
I never mean to do bad things to you
So quiet but I finally woke up
If youre sad then its time you spoke up too

fastball - "out of my head"

pic: the-dark-dragon

domingo, dezembro 03, 2006

um salto sem lady G




E subindo ao alto da montanha o cavaleiro olhou para o seu rasto.
Os seus pés pesados, arrastando a armadura, destruiram tudo pelo caminho.
"De que serve chegar ao topo se depois não existe nada bonito para ver?"- pensou triste.
Olhou para todo o lado mas não conseguiu encontrar lady G.
Então, de uma forma libertadora, tirou a desconfortável armadura e lançou-se no abismo.
Bem tentou, mas não consegui flutuar.


art Dappolo