sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Inquilinos



O amor chega e guardo-lhe um lugar à porta,
A minha vida só lhe reserva um pequeno quarto,
toda a casa está inundado por dor, mágoa e medo.

A dor é uma péssima inquilina,
ocupa a maior parte da casa,
faz muito barulho,
nunca me deixa concentrar,
quer-me só para ela.
Dou por mim a copiar a sua forma de vestir,
a falar como ela.
Ando vestido de dor.

A mágoa é normalmente silenciosa,
está sempre no seu quarto,
nunca sei como reagir com ela.
Ela é uma infiltração,
reservada, vai abalando as fundações da minha casa.

O Medo pesa 300 kilos,
vive no sótão.
Ouço constantemente os seus saltos assustadores.
Vivo com receio que o chão não aguente e o Medo caia em cima de mim.
Sei que mais cedo ou mais tarde vai esmagar-me.

E o Amor continua à porta,
recusa o seu pequeno quarto.
Infelizmente ele não sabe esperar.
O amor nunca foi paciente.

pic: gilad

7 comentários:

Anónimo disse...

Deixa-o entrar e eu prometo que ele te vai inundar a casa toda...

LB disse...

O Amor tem uma forte personalidade... e por vezes é bem inflexível! Acredito que podemos trasferi-lo... transformá-lo... (mas também eu lhe guardo lugar à porta reservando-lhe um pequeno quarto)

Maria disse...

Sugestões de uma meia-arquitecta para as tuas obras em casa (urgentes!):

1º - Livra-te completamente da mágoa. A tua casa tem boas fundações, há que preservá-las de tão grave infiltração. Faz um barramento com 1 parte de pó “Tréguas ao Passado” + 2 de liquido “Olhos no Futuro” e passa por todo o lado onde haja vestígios dela.

2º - Acaba com o medo no sótão. Umas demolições no topo nunca são tão difíceis como na base. Apenas demora mais a carregar o entulho para a rua…

3º - Para apagar a dor tens de dar um primário de branco antes da pintura final ou nunca ficará bem. A seguir é só pintar ambientes distintos dentro da casa, uns mais tranquilos outros mais vibrantes, para que te sintas sempre acolhido, independentemente do estado de espírito.

Depois de terminadas as obras vai ser tão bom partilhar o espaço! O teu espaço…

Beijo enorme, sentidor sonhador!

Anónimo disse...

http://procellarum.blogspot.com/

tem um destaque no link acima. é bem merecido. bom dia.

100 remos disse...

Que engraçado... coloquei no meu espaço uma música que tem tudo a ver com este texto. Chama-se "Haunted Home" do David Fonseca.
Parabéns pelo texto!

Anónimo disse...

O mais importante numa casa são as fundações. Boas paredes, bom tecto, e principalmente bom chão. Sei que às vezes trazes o tecto cheio de ar, mas não tenho dúvidas quanto à firmeza do teu chão. E sabes... o medo come o tempo, a mágoa come o pensamento e a dor come o coração. Se bem que ainda és novo- o tempo é precioso, se bem que tanto pensas -é preciso o pensa(dor), se bem que o teu coração é enorme -nunca um coração é grande demais. Beijo. Inez

Nobre Vagabundo disse...

A dor é um iniquilino espaço, inconstante e imprevisível. Porém, quando ela desocupa o imóvel (pois o coração que não bate é assim), deixa um grande vazio.
O que devemos sempre fazer é preencher os vazios de coisas que nos aliviam a dor para que, quando ela voltar, não nos faça sofrer tanto.

Mas nunca deixar o imóvel parado... ou ainda vazio!